sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Devia ser madrugada ainda
quando você saiu.
Pelo jeito,de mansinho.
Foi cuidadosa,
não quis me acordar.
Não me beijou,eu sei,
antes de partir.
Não deixou sequer
um bilhete de adeus.
Agora,da janela,
ainda sinto no vento
que me acaricia o rosto
o seu perfume suave
e vejo,ali na rua,
a rosa que,ontem, eu lhe dei.
Algo me diz que devo sair
e pegar aquela rosa
que ainda é sua.
Talvez a esperança de que ela,
minha mais nova
companheira de abandono,
ao ouvir a queixa que
me sai dos olhos tristes,
me fale
(mas que bobagem!)
o rumo que você tomou.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Em nossa vida,estamos sempre sendo colocados diante de escolhas,de tomadas de posições.Se para isso acreditamos no diálogo,é preciso que,antes de tudo,entendamos a nossa relação com a verdade.É a verdade uma só ou ela nem mesmo existe?
Há os que acreditam que cada um tem a sua verdade,o que pode levar à conclusão de que as verdades se valem.Há quem pense que a sua é a única verdade e que os outros,não pensando como ele,estão errados e devem ser corrigidos.
Creio que dialogar é sempre o melhor caminho e que o verdadeiro diálogo só é possível entre os que acreditam numa verdade que conviva com as outras.Vivo desconfiado dos que se agarram de forma absoluta as suas verdades e me afino com os dizeres do escritor russo,poeta e romancista,Boris Pasternak (1890 - 1960),que li há muito tempo e guardo na memória como um ensinamento que transformou meu ser:
"Tudo o que é escrito,ordenado e factual nunca é suficiente para abarcar toda a verdade.A vida sempre transborda de qualquer cálice".

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

( PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DA FAIXA DE GAZA)

Pensei em não falar do conflito atual na Faixa de Gaza,da ofensiva israelense àquele território, visando à eliminação do Hamas,uma organização palestina que não reconhece a existência do Estado de Israel e controla a Faixa de Gaza.Mas não resisti e senti vontade de falar,mesmo correndo o risco de não dizer nada.
O que sei dos conflitos que se estabelecem no Oriente Médio é o que li nos livros de História e nos jornais e vi nos documentários e noticiários de televisão.Não tenho aqui a pretensão de fazer nenhuma análise sobre eles.Nem tenho capacidade para tal.Vou só colocar aqui o meu sentimento sobre a construção das guerras na história da humanidade,de forma bem simples,talvez ingênua,sem me ater ao atual conflito.Não vou tomar partido de judeus ou palestinos,nem optar por atribuir ao Hamas o status de grupo militar terrorista e de resitência islâmica,que aterroriza a vida dos judeus,ou de um grupo político e de assistência social,que constrói escolas,hospitais e distribui comida para o povo e,com isso,ganha amparo de parte da população palestina numa causa que considera justa.Mas não posso deixar de expressar uma convicção,que é minha e de muitos, de que o uso da força é sempre o pior meio de se resolver qualquer conflito,e a minha quase convicção de que a história humana é uma história de guerras.
Procurei colocar,aqui,uma imagem bem amena ao invés de uma das muitas que foram divulgadas pelos meios de comunicação que traduzem parte da crueldade e dos horrores vividos,especialmente,pela gente palestina.E,se digo parte da crueldade e horrores,é porque penso que de uma imagem,por mais real que seja, só se podem fazer abstrações.A imagem acima combina mais,creio,com os versos que seguem,simples,despretenciosos e que foram pensados sem esta introdução,inspirados no momento atual,frutos das minhas humildes reflexões de agora e de antes.
Terra,uma imensidão de terras e águas.
Da terra e da água,o barro.
Do barro,o homem.
E esse homem,
cujo atávico destino é o retorno ao pó,
quis compor outros destinos.
E dotou-se dos mais diversos
e contraditórios sentimentos:
amor,ódio,cobiça,ambição,justiça,
coragem,covardia,medo,bravura,
crueldade,ternura e tantos mais.
Muniu-se de lanças,balas,canhões,mísseis,
armou-se de ideologias,de crenças e de religiões
e saiu traçando riscos sobre a Terra,
transformando-a numa colcha de retalhos,
somando,subtraindo,multiplicando,dividindo,
demarcando faixas e sub-faixas de terras,
criando cidades,estados,países,impérios,
promovendo condomínios,favelas,guetos
e até uma Faixa de Gaza.
E segue o homem rumo ao seu atávico destino,
amando,odiando,matando,morrendo,
construindo,destruindo,atacando,defendendo,
traçando novos riscos
e fazendo do Planeta Terra
um imenso palco de guerra.





sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

(Cena do filme Encontro de Amor,com Jennifer Lopes e Ralph Fiennes)
Um dia,de repente,meus olhos
experimentaram uma visão sublime,
de uma beleza sem medida que me fez levitar.
Duvidei da realidade daquele instante.
Não me coube dizer nada,não soube dizer nada.
Guardei em minhas retinas aquela imagem.
E,assim,em meus olhos,abertos ou fechados,
a prova de uma existência que me bastava.
Um dia,de repente,meus olhos encontraram você.
E aquela imagem,guardada em minhas retinas,
se reconheceu na mulher diante de mim.
Então,como se decifrada a senha,
todo o meu corpo foi invadido pelos seus sentidos.
Meus olhos se enterneceram com os seus olhos,
meu coração se encantou com a sua ternura,
minhas mãos sentiram as suas mãos suaves,
minha alma reverenciou a sua alma.
E,naquele instante,
desejei seus lábios colados aos meus,
selando o encontro de um amor sublime.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Naqueles beijos,o tremor dos corpos,
um feitiço em nossas peles que fazia
arder cada poro.
No roçar dos nossos lábios,
o millagre transcorrendo,
desvendando segredos que iriam
desaparecer para sempre.
O mundo ficou longe.
Ali,o tempo era indivisível.
Aquele momento era tudo.
O antes já não havia mais
e o depois o faríamos nós dois.
Na confusão de nossas almas,
nossos desejos se encontravam.
Nos labirintos de nossos corpos,
o amor fluia solto,
enquanto nossos dedos
iam compondo em nossas peles
juras de amor eterno.
E,de repente, nossos lábios,
já extenuados de suspirar delírios,
gritaram o êxtase daquele momento
na única frase que podia ser dita,
a confissão que nossos olhos
já haviam feito no primeiro olhar,
guardada em nossos corações:
EU TE AMO!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Era madrugada quando acordei gritando.
No quarto,um eco de solidão e ausência.
Minha alma queria fugir,jogar-se pela janela.
Meu coração batia forte no peito,descompassado.
Ela se inscreveu em mim para sempre,
roubou meu coração,minha respiração,meus sentidos.
Agora,distante,insistia em roubar-me o sono
nas lembranças que me alucinavam
e enchiam de gritos o silêncio da ausência.
Eu precisava apaziguar meu corpo,
conciliar o sono,conter minha saudade.
Peguei,então,a foto dela no criado-mudo,
acariciei seu rosto com as pontas dos dedos,
estendi-me na cama com aquela foto sobre o peito
e conciliei o sono conversando com ela
na penumbra do quarto.
Não podia ouvir a sua voz,
mas sentia a sua presença,
o seu calor que inflamava cada pedaço de mim.
E,assim,fechando os olhos,e falando com ela,
pensava que ela poderia me escutar de onde estivesse.
Agora,eu resistia a entregar-me ao sono
e começava a pensar nos versos que eu iria escrever.
Porque é preciso escrever uma carta de amor
para que eu não me sinta tão só.

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