quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Ando pensando,e não é de agora, no valor que damos a uma bonita fala,cheia de belas palavras,de palavras bem ditas,ornamentos que são na expressão dos sentimentos,dos desejos,das intenções.
Valorizamos muito um discurso bem elaborado,as "frases de efeito",e nem sempre pensamos no que pode estar oculto nas palavras,na verdade que elas podem esconder.
Eu,quase sempre que ouço a fala de um político,de uma autoridade qualquer,de um intelectual,um juramento de um graduando em sua colação de grau,lembro-me das palavras de Eurípides citadas por Erasmo de Rotterdam em seu Elogio da Loucura:"Os sábios têm duas línguas,uma para dizer o que pensam e a outra para falar conforme as circunstâncias:quando querem,têm talento para fazer o preto aparecer como o branco e o branco como preto,soprando com a mesma boca o calor e o frio e exprimindo com palavras exatamente o contrário do que sentem no peito".
O sábio humanista holandês do século XVI cita tais palavras,evocando o grande poeta trágico grego do século V a.C,que,em suas obras,já dava ênfase na análise psicológica e entendia o privilégio dos tolos (sequazes da loucura,segundo Erasmo) de poder falar com toda sinceridade e franqueza,de trazerem impressos na cabeça e manifestarem com palavras o que encerram no coração.Erasmo ainda pergunta,já sabedor da resposta: "Haverá coisa mais louvável que a verdade?".
Creio que o que levou Eurípides a restringir aos sábios o privilégio das "duas línguas" deve ser uma questão de contexto;em seu tempo,sábios,provavelmente,eram os que detinham o poder da palavra.Podemos,sem dúvida,estender tal atributo a todos,sábios ou não (sabidos,talvez),que fazem uso das palavras,seja para comunicar,para persuadir,para dialogar,para louvar,para declarar um sentimento etc.
Em tempos de campanhas políticas,por exemplo, é natural pensarmos nas duas línguas dos políticos (sem falar na "cara de pau").É com essa habilidade que eles agem.Mas é bom pensarmos também que é com essa habilidade que,em certas ocasiões,dizemos,não o que pensamos,mas o que nos convém.E,convenhamos,quase ninguém deseja de fato a verdade.
O certo é que quem tem o dom da oratória e sabe derramar palavras bonitas para todas as ocasiões costuma valer mais do que pesa (ou seria pesar mais do que vale?). (continua...)

terça-feira, 9 de setembro de 2008


Infinitivo


Esperar seu corpo,

louca ansiedade.

Imaginar sua presença,

solidão, saudade.

Amar você,

única verdade

domingo, 7 de setembro de 2008


Dizem que mal de amor se cura com o tempo.É só esperar que os dias passem;não há ferida que não cicatrize,não há amor que resista.
A verdade é que,querendo sair do sofrimento,o doente de amor passa os dias tentando ajudar o tempo nessa tarefa da cura.Assim,ele começa a represar suas lágrimas,a abafar seus gemidos,a fechar seus olhos,a calar sua voz e a repreender sua memória(ah! essa memória que insiste em nos fazer voltar no tempo,e sem a qual não somos).
Mas é preciso mais.Dá-se,então,início a um novo tempo,o tempo da desconstrução,das indelicadezas,da indiferença,no qual o doente de amor irá se encarregar de apagar os sentimentos,de desatar os laços de ternura que o prendiam ao ser amado;uma tarefa nada fácil quando os laços não são simples,quando eles já se tornaram nós.
É o senso prático que dita que assim seja.Já que o tempo cura tudo,o que importa é o tempo que vem e não o que já foi.Fora disso,tudo é loucura,é sonho,pois só os loucos,os sonhadores querem insistir em um amor que já não é correspondido e viver na loucura,recitando poesias ao vento,buscando na memória cada instante de prazer vivido ao lado do seu amor,dialogando com a lua e com as estrelas,viajando no tempo sem querer voltar,sentindo o cheiro da pessoa amada.
É assim que vivo os meus dias,numa loucura suave. Em meu ser tudo é tempo,que despreza o tempo que veio antes de eu conhecer minha amada e não consegue alcançar o tempo que me faça esquecê-la.Já não vislumbro o tempo que me cure,já não espero o amor,já não desejo mais nada nos dias que vêm,a não ser descansar em meus sonhos e amar,amar,amar,amar,amar,amar,amar....

segunda-feira, 1 de setembro de 2008


Cubra-me com o som da sua voz,

mas não me deixe mudo

à sombra do seu corpo.

Proteja-me em seu leito,

mas não me tome menino

nem me faça dormir.

Sinta-me todo seu,

pois o meu ser só aceita seu ser,

mas não me deixe só

porque só eu sou triste.

Conte-me o segredo do seu perfume

ou me permita senti-lo sempre.

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