domingo, 13 de setembro de 2009

Enquanto se dirigia para casa,depois de sair do trabalho,ele dizia a sua esposa,que o acompanhava no carro,em um tom melancólico e um tanto dramático:

- Não aguento mais aquele meu patrão.Vive criticando meu trabalho,me tratando como se eu fosse um funcionário qualquer.Há mais de dez anos que eu me dedico à empresa,quase me matando a cada dia para garantir a produção,e ele,só porque tem aquela pós-graduaçãozinha em gestão de negócios,acha que sabe mais do que eu,que pode se dirigir a mim daquela forma arrogante.Tudo bem que ele me paga um bom salário,mas podia me respeitar como um ser humano.Um empregado seu,sim,mas,antes de tudo,um profissional que também tem sentimentos,não é mesmo,meu bem!

Sua esposa,já acostumada com aquelas lamúrias,sem querer esticar a conversa,fez um afago em sua cabeça e disse em um tom animador:

- Hoje é sexta,meu amor,o final de semana está aí.Além do mais,o baile do Rotary,esta noite,vai ser maravilhoso,tenho certeza.

Chegando em casa,ele foi logo se preparar para o baile.Antes do banho,foi lá recomendar à Sérvula que cuidasse da sua roupa,que passasse com muito cuidado aquele seu terno novo.E com uma forte advertência dita em altíssimo e bom som:

- Vê se faz direito o serviço,viu? Quero o terno impecável desta vez.Nada de marcas como naquele outro da semana passada.E lembre que este meu terno é caríssimo.Se estragá-lo,vai ter que ficar uns cinco meses sem receber.Aliás,depois que eu assinei a sua carteira,parece que você ficou mais relaxada no serviço,mais tonta do que de costume.

Sérvula,que já deveria ter largado o serviço há mais de duas horas,ouviu tudo resignada,não sem uma pitada de insatisfação que lhe agitava os pensamentos e fazia arder-lhe os olhos.E não era para menos.Já estava cansada de fazer horas extras e não receber por elas,mas,sobretudo,doía muito nela aquele jeito com que seu patrão lhe dirigia a palavra,sempre áspero e sem jamais colocar um 'por favor' nas frases.
Ela,que não era de se lamentar,acostumada a não ter em casa um companheiro para ouvir uma lamúria sua,foi lá fazer o que o patrão lhe ordenara.Mas,desta vez,resmungava com os seus botões,fiéis ouvintes dos poucos lamentos seus:

- Pôxa,tudo bem que ele é o meu patrão e que é com o salário que ele me paga que eu sustento os meus três filhos,mas bem que ele podia me tratar melhor,né? Tá certo que ele é um homem estudado,tem diploma,mas custava ele me respeitar pelo menos como gente.Afinal,como dizia a minha finada mãezinha -que Deus a tenha - nós somos todos filhos do mesmo bom pai.

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