segunda-feira, 13 de outubro de 2008


A noite ia ser longa.Imaginava até que nem conseguiria dormir,tamanha a ansiedade que tomava conta dele.Ela chegaria na manhã seguinte.Há três anos não se viam;pouco se falaram nesse tempo,e esse pouco seria nada,não fosse ele um persistente incorrigível.
Ainda era dia claro quando resolveu deitar-se.Já acostumado a ter as noites a lembrar-lhe de uma ausência,desejou esta noite,véspera de uma tão esperada presença.Não tendo o poder de adiantar o tempo,fez o que podia:fechou todas as janelas da casa,todas as cortinas,não permitindo uma fresta sequer que acusasse o dia.Sentiu-se poderoso,criando a sua noite e,com um sorriso nos lábios,disse 'Fiat Noctum'.
Agora,estava ele em sua cama,contraído,pensando em como seria o reencontro com o grande amor da sua vida,o reencontro desejado,sonhado por tantas noites solitárias.Pensava no que iria falar,se choraria,se haveria beijos e abraços,se falariam das angústias,se suas almas se reconheceriam,se haveria um novo começo.Pensava no martírio de lembranças que a distância criou nesses anos todos de ausência.Pensava,e sentia o seu coração doer,na mais cruel das dúvidas:ela ainda o amava?
Não querendo mais pensar e querendo,mais do que tudo,que o outro dia chegasse logo,ele começou a recitar os versos que escreveu para ela(centenas) nesse tempo todo de abandono.
E o sono,que não costuma ser generoso com os aflitos,apiedou-se daquele coração cheio de amor e invadiu-lhe os sentidos no momento exato em que ele,o persistente incorrigível,sussurava:'esperar-te-ei até o fim dos meus dias'.

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