quarta-feira, 15 de abril de 2009



Naquele banco,onde se sentava por todas as manhãs,ele tentava recuperar as energias de uma caminhada matinal,e,sobretudo,descansava o corpo já castigado pela perda da saúde física que o peso dos anos lhe causara.E perdia-se em pensamentos e lembranças.
Era mesmo um homem já acostumado a perdas.Os filhos se foram,cada um para um canto,certos de que a vida exigia deles compromissos maiores e inadiáveis,inclusive o de serem pais zelosos e homens bem-sucedidos.Essa era uma perda que ele lamentava muito,mas com a qual se conformava sempre que ouvia notícias de que os filhos estavam bem.
Desde que perdera sua esposa - a maior e mais dolorida de todas as perdas - a amada companheira de longos anos,ele levantava muito cedo,mal tomava seu café,e partia para sua caminhada,uma prova de resistência,uma prova de vida.E sempre o mesmo trajeto,as mesmas atividades.Uma passada na banca de revistas,um jogo de damas com os companheiros na praça,uma volta no lago,uma visita à biblioteca pública onde se encontrava ao se perder nos livros...
Daquele banco,ele observava a vida que seguia pelas ruas da cidade.De vez em quando,tinha a companhia de alguém e puxava uma conversa,pronto para sentir o calor de alguma palavra que lhe trouxesse uma emoção daquelas que só as suas lembranças e as suas leituras lhe traziam ultimamente.
Agora,sentado ali,pensava no quanto era raro uma palavra a ele dirigida e no quanto a sua vida se tornava imperceptível para as vidas que seguiam pelas ruas num ritmo e numa dureza que jamais caberiam em seu coração.Sentiu-se,por um instante,como uma peça que já não mais se encaixava na engrenagem do mundo e a qual só caberia o destino do que já não mais é.E,triste,chorou,um choro escasso de lágrimas,riacho apenas,próprio de quem já chorou oceanos.Mas bastou esse riacho para que ele sentisse,no instante seguinte,a sua vida a pulsar.

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