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sábado, 15 de novembro de 2008
Aqui estou eu,sentindo nos ouvidos,para não dizer no corpo inteiro,um barulho dos infernos que já se arrasta desde a noite de ontem pela vizinhança.Querendo falar de uma coisa desagradável,o inferno dos vivos,resolvi ser ameno no título e agradável na imagem.Espero que tenha conseguido.
É incrível a balbúrdia que os estudantes,na maioria,promovem na cidade onde moro e trabalho,uma cidade universitária.Pois é,o inferno é quase uma constante por aqui,e sempre acho que há dias mais infernais do que outros.Acreditem,não sou de exagerar.
Fui dormir tarde ontem e cheguei a pensar que não conseguiria.Desde que cheguei em casa,depois de um dia de trabalho,e já sonhando com o descanso merecido do final de mais uma semana,que sinto essa invasão de sons que vêm das ruas,dos apartamentos vizinhos,uma confusão de "músicas" de péssima qualidade que embalam as festas que vão acontecendo sem parar.O sono chegou,finalmente,trazido pelo cansaço.
Antes de dormir,no entanto,embalado pelo barulho infernal que vinha lá de fora,fui pensando nas notícias ruins que apareceram pelos jornais durante a semana que terminava.Sei que houve coisa boa acontecendo e sendo noticiada,mas não conseguia me lembrar de nenhuma.Acho que era o efeito das músicas ruins.Só me vinham à mente coisas como,'crianças assassinadas','quadrilhas que desviam recursos públicos','confronto entre policiais e traficantes nas favelas do Rio','crise financeira' e por aí vai.Estavam aí os ingredientes do meu sono,o enredo dos meus sonhos.
Felizmente,tive um sonho interessante,um sonho que valeu a pena ter sonhado.Nele,eu me vi um personagem da obra Cidades Invisíveis do escritor italiano Ítalo Calvino (1923-1985).Lógico que um figurante apenas,mas presente em um dos momentos marcantes da obra quando se fala do inferno dos vivos (oportuna a minha presença nesse momento da obra,não?).Já que não tenho a genialidade do escritor,o fabulista dos Contos Fantásticos,coube-me,pelo menos em sonho,viver um pouco da fantasia que ele criou.E me vi naquele momento do livro em que o Grande Khan,ouvindo as descrições das viagens imaginárias de Marco Polo às cidades invisíveis,chega a conclusão de que todas as cidades que ameaçam os homens em pesadelos e maldições são uma só.E foi o diálogo entre os dois que presenciei em meu sonho,como o descrito no livro:
Grande Khan: - É tudo inútil,se a última parada for,inevitavelmente,a cidade infernal,e se é para lá que,em círculos cada vez menores,a corrente nos arrasta.
Marco Polo: - O inferno dos vivos é aqui,o inferno em que vivemos todos os dias,o inferno que, juntos,formamos.Há duas maneiras de escapar de tal sofrimento.A primeira é fácil para muitos:aceitar o inferno e se tornar parte dele,com tamanha intensidade que já não se consiga sequer vê-lo.A segunda é arriscada e requer vigilância e preocupação constantes:aprender a identificar quem e o que,no meio do inferno,não é inferno,e preservá-los,e abrir-lhes espaço.
Esse foi o sonho de ontem.Agora já me preparo para dormir e sinto que o barulho infernal persiste lá fora.Quem sabe no sonho de hoje,se me vier algum,aparece-me uma indicação,pequena que seja,de como manter a esperança de continuar encontrando por aí o que e quem não seja inferno para,então,persistir na maneira arriscada de escapar do sofrimento.
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